DICAS E TÉCNICAS

As taças e seus vinhos, tim-tim por tim-tim.

Basta ser um simples apreciador, mesmo sem muito costume, para perceber que os tipos de taças em que tomamos vinho modificam as sensações que temos sobre o gosto, o cheiro e a própria experiência da degustação. O que muita gente não sabe é que cada taça foi criada com um desenho que realça a característica de cada tipo de vinho. Quer saber como? Então leia esse post digno de aula de enologia.

Um gênio chamado Riedel

Há menos de um século atrás as taças de vinho seguiam um padrão; elas eram abertas na boca e se afunilavam no fundo, como um cone invertido. Foi então que em 1950 o austríaco Claus Josef Riedel percebeu que o volume da taça, o diâmetro, a espessura e o acabamento influenciavam na maneira como o vinho era encaminhado até nossa língua, em especial no aroma e no fluxo. Os cheiros liberados são chamados de buquê ou bouquet, e “fluxo” é como o vinho chega em nossa boca.

Como isso funciona? Nossa língua tem áreas que percebem melhor o doce, outras o salgado, e o mesmo para o azedo ou o amargo dos alimentos e bebidas; a forma como o vinho chega na língua influencia nossa percepção.

Além disso, para poder liberar seus aromas secundários, terciários etc., alguns tipos de vinho precisam mais de contato com o ar do que outros. É química pura, assim como um laboratório precisa de formatos diferentes de recipientes para cada experimento com suas substâncias.

Entendendo os vinhos para escolher a taça

Vinhos tintos precisam de espaço para respirar, pois é a oxigenação, por meio da agitação, que faz com que seus aromas e sabores intensos sejam mais aproveitados. Portanto, as taças maiores, com corpo grande, são as que mais oferecem espaço para o vinho “dançar”. O ideal é preencher somente ⅓ do volume da taça. Outros tipos podem ter de ⅓ a ½ taça, mas nunca cheia.

Vinhos Bordeaux, que são encorpados e ricos em taninos, precisam de um bojo grande e uma boca mais fechada, de aba fina. O vinho é conduzido de forma que os sabores mais intensos e frutados sejam percebidos na frente da língua, e os taninos, que são mais amargos, sejam percebidos no fundo.

Vinhos Borgonha, complexos e concentrados, devem ser tomados em taças de formato de balão, ou seja, com bojo mais largo. É a taça perfeita para o nariz, pois, com mais bojo, o vinho entra em maior contato com o ar. O buquê será liberado rapidamente para seu olfato. Para o paladar, seu formato direciona a bebida para acima da ponta da língua, diminuindo a sensação de acidez e acentuando as notas maduras.

Vinhos brancos são consumidos gelados e não requerem muita oxigenação para liberar suas preciosidades. A taça é sempre menor, para não dar tempo de esquentar a bebida na sua mão. As abas das taças de vinho branco são estreitadas, pois assim entregam a bebida na ponta da língua para você apreciar a doçura e a acidez de seus tons frutados.

Os rosados possuem os taninos do tinto e o aroma dos brancos, por isso sua taça é peculiar: menor ainda que a do vinho branco, porém com bojo mais largo, destacando a acidez e equilibrando a doçura.

Espumantes, ou champagnes, por terem bolhas de gás (chamados de perlage), precisam de um formato totalmente diferente. Suas taças são chamadas de flûte (flauta), pois são alongadas. Esse design direciona a efervescência para o nariz. É um fluxo mais controlado para ter a sensação de uma acidez mais “limpa” e um sabor mais profundo. No entanto, cuidado: taças muito retas não seguram o aroma; o ideal é a taça curvée, que, além de tudo, joga a bebida para a frente da língua, onde se aprecia melhor o espumante.

Vinhos doces pedem taças menores, de bojo pequeno, já que geralmente são consumidos em pouca quantidade. As taças têm boca estreita, o que favorece, na condução da bebida, a apreciação do doce na língua. Há também as taças menores, para vinhos licorados.

Se você é novato nessa arte de degustar, comece adquirindo taças “ISO”, chamadas coringas. Elas foram criadas em 1970 para fazer comparação e referência, e por isso são usadas em degustações técnicas. Mas conforme você for adquirindo prática (o que não vai demorar), perceba a diferença que um vinho tem em aroma e sabor ao trocar uma taça ISO para outra mais apropriada.

Material da taça: tipos e cuidados

Hoje existem no mercado basicamente quatro tipos de material: cristais, cristais de vidro, vidro e kwarx(os chamados “inquebráveis”). O que você precisa saber é que o cristal é mais poroso que o vidro. Ao fazer o vinho dançar, o atrito entre a taça e a bebida faz com que os aromas sejam liberados em maior quantidade. É por isso que o recomendado para apreciar vinhos é em taças de cristal ou cristal de vidro. E sempre transparentes, pois faz parte do ritual observar a cor e textura da bebida.

Um lembrete sobre os cristais. Existe chumbo na composição do cristal e do cristal de vidro (24% e 10%, respectivamente), pois o chumbo é o que proporciona leveza, boa espessura e sonoridade à taça. Mas você não precisa se preocupar, pois isso não vai contaminar o vinho. É preciso que a bebida fique horas, ou dias em contato com o cristal para que exista algum risco à saúde.

Para preservar o cristal, você deve lavá-los sempre com água morna e o mínimo de detergente possível. Enxagüe bem seque preferencialmente com um pano de linho e, ao fazer isso, evite movimentos circulares opostos (exemplo: você gira a haste para um lado enquanto a mão do pano gira para o outro). Para guardar, opte por um local livre de odores.

A recomendação da Spïcy para seu rol de taças é a marca Spiegelau. De origem alemã, seus produtos são relembrados por causa da durabilidade e qualidade do material. Também graças à beleza do design, sem dúvida são taças que acrescentam valor à sua experiência com vinhos, seja você um enólogo de carteirinha ou um principiante nesse universo especial.

Link da marca: www.spicy.com.br/spiegelau

Últimas dicas

Qual o tipo de taça que não pode faltar na sua casa? A resposta é simples: aquele que combina com o vinho que você mais gosta ou consome. Uma vez que sua variedade aumente, aproveite e teste você mesmo se os aromas, sabores etc. realmente mudam conforme cada tipo de taça e vinho. Brinque, descubra por si.

Para um bom apreciador, o recomendado é tomar uma taça de água para cada taça de vinho; em primeiro lugar, porque ajuda a limpar a boca e preparar o paladar para o sabor da bebida; em segundo, porque ajuda o fígado a assimilar o álcool consumido. E a última recomendação é não dirijir depois de beber. Só com moderação a gente aprende a apreciar um bom vinho.

E prepare-se, pois vem aí um post especial sobre a rota do vinho na França. Aguarde, e um brinde!

Fontes:

Revista Adega (ed. 40, fev/2009)

Adega Corradini http://www.adegacorradini.com.br/

Carlos Cabral http://www.carloscabral.com.br/

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