FOCO NO INGREDIENTE

Spicy Spicy: Um especial sobre pimentas

Aquele garoto é um pimentinha. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Dar uma apimentada na relação. Quente como pimenta.

De suave a picante, de coadjuvante a protagonista, a pimenta tem um lugar especial tanto na culinária quanto na cultura geral. Não é por acaso que tantas expressões em diversas línguas se referem às tais especiarias, pois, afinal, as pimentas de fato são o puro fogo condensado em forma de alimento.

A maioria das pimentas conhecidas e popularizadas têm origem nas Américas, como Brasil, México e Peru. No entanto, são os tailandeses e coreanos que mais consomem as pimentas no mundo. Por aqui, o consumo médio é de meia grama de pimenta por dia; na Tailândia chega a ser dez gramas por dia, por pessoa.

Apesar de a pimenta thai ser uma espécie do sudoeste asiático, a maioria dos tipos de pimenta chegaram à Ásia por causa das grandes navegações dos séculos XV e XVI. Com o comércio de especiarias, as pimentas ganharam legiões de fãs em todo o planeta, já que elas incrementavam o tempero das refeições e ainda traziam benefícios à saúde. Aliás, será que “especiarias” vem de “spicy”?

Curiosidades técnicas sobre pimentas

As pimentas são as plantas Solanaceae Capscicum, ou simplesmente “capsaicinoides”, e existem em quase trinta variedades distintas. Elas são classificadas de acordo com a Escala Scoville, que surgiu em 1902 com um método bem curioso: a escala mede quantas xícaras de água são necessárias para disfarçar o sabor de uma xícara da pimenta.

Ou seja, uma pimenta de 500 SHU (Scoville Heat Unit) precisa de 500 xícaras de água para disfarçar o sabor picante de uma xícara da mesma espécie de pimenta. Uma pimenta dedo de moça tem de 5 mil a 15 mil SHU; a jalapeño, tradicional no México, varia de 3 mil a 8 mil; a malagueta varia de 50 mil a 100 mil; já as pimentas mais inflamáveis do mundo recebem o nome de Trinidad Scorpion Butch T (1,4 milhões de SHU) e Trinidade Scorpion Morouga (2 milhões de SHU). Estas são tão fortes que, para manuseá-las, é recomendado uso de luvas e máscara para o rosto. No entanto, desafio mesmo acontecem nas manifestações: os sprays de pimenta têm concentração de 2 a 5 milhões de SHU.

Outra informação interessante é que “apimentado” não é um sabor, como o doce, o salgado, o azedo e o amargo. Na verdade, apimentado é uma sensação, pois as pimentas possuem substâncias que ativam os nociceptores polimodais, que existem não só na boca e nariz, mas no corpo todo. Estes receptores enviam ao cérebro a informação que o corpo está se queimando, e por isso começamos a suar e sentir acelerar o batimento cardíaco.

É por isso também que o ser humano torna-se resistente à pimenta: o cérebro vai descobrindo que aquela sensação na verdade é um alimento, não um perigo. Não é à toa que brasileiros e mexicanos são mais resistentes às pimentas.

Mostarda e wasabi também têm sabor “apimentado”, no entanto suas moléculas de picância (isotiocinatos) são menores e mais leves que as das pimenta (alquilamidas), e por isso o nariz costuma sentir seus efeitos.

A pimenta do reino não é de fato uma pimenta, e sim uma planta “apimentada”, pois é do gênero piperina.

Benefícios da pimenta

Quando consumidas frescas, as pimentas proporcionam boas doses de vitamina C, vitamina E, carotenoides (que estimulam a produção de vitamina A), além da capsaicina, substância típica das capsaicinoides e que é termogênica.

A combinação de nutrientes e a quantidade encontrada nos tipos mais comuns de pimenta é o suficiente para afirmar que as pimentas Solanaceae capsicicum são:

  • antimicrobianas
  • antiinflamatórias
  • anticancerígenas (em especial contra câncer de próstata)
  • auxiliares da digestão
  • termogênicas (aumentam o metabolismo e ajudam a emagrecer)
  • combatentes da hipertensão
  • afrodisíacas

Elas só não são recomendadas para quem sofre de hemorroidas e gastrite. O consumo  diário, portanto, deve ser avaliado de acordo com seu organismo.

As pimentas mais populares no Brasil

A Revista Digital listou os tipos mais conhecidos entre os brasileiros, de acordo com a potência da pimenta.

  • pimentão muitas vezes nem chega a ser apimentado; ao contrário, é adocicado;
  • A pimenta biquinho é tão suave que pode ser consumida pura e inteira na boca;
  • cambuci (chapéu de frade) é um tipo adocicado e muito consumido no país;
  • jalapeño e sua versão ressecada e mais picante, que é a pimenta chipotle;
  • A pimenta dedo-de-moça é levemente picante, e é utilizada no preparo da calabresa;
  • A pimenta bode, que varia de média a muito picante;
  • pimenta-de-cheiro, que varia tanto na cor quanto na sensação (suave até picante);
  • cumari-do-pará e a cumari verdadeira são umas das brasileiras mais picantes;
  • tabasco (que possui variações mais fracas e outras bem apimentadas);
  • e a pimenta malagueta, muito usada no preparo do acarajé, prato que faz parte da cultura baiana.

Hoje, graças a diversas técnicas de gastronomia e manuseio, as pimentas podem ser preparadas em conservas, molhos, azeites, geléias, bombons, trufas e até chocolates. O limite é a sua criatividade: experimente preparar um alho moído com pimenta para ver o sabor que vai ficar na carne.

 

 

Fontes:

http://gq.globo.com/

http://www.bonde.com.br/

http://www.minhavida.com.br/