Este é o primeiro de três textos que a Revista Digital da Spïcy preparou no Especial Utensílios de Cozinha. Neste post você vai saber mais da história do uso dos instrumentos que determinaram ou foram determinados por nossa maneira de se alimentar.
A história da cozinha, e também de sua arquitetura, é praticamente a história da evolução do fogo e do fogão. Já a história dos utensílios são reflexos das dificuldades nutricionais, gostos e necessidades que cada civilização teve ao longo do tempo.
De acordo com os estudos arqueológicos, há evidências de que os recursos naturais que os homens primitivos tinham à mão determinaram a cultura culinária das civilizações. Por exemplo: povos que viviam próximos ao mar utilizavam conchas e cascos de tartaruga como cumbucas primitivas, o que delineou suas preferências alimentares. Os asiáticos, tão bem providos de certos tipos vegetais, utlizavam copos feitos de bambu; da mesma forma, os americanos pré-Colombo tinham diversas tigelas feitas de pedra.
Um dos aspectos mais interessantes da história dos utensílios de cozinha é a prova de que existe um “darwinismo gastronômico”, nas palavras da pesquisadora Bee Wilson. A especialista, em seu livro Consider The Fork, observou que na cozinha a tecnologia só sobrevive quando é útil, ou seja, o que é prático nunca sai de cena. Exemplos: a colher de pau e a própria panela. Estes sobreviventes foram capazes de moldar costumes tanto à mesa quanto no uso do fogão.
No entanto, é possível dizer que a história dos utensílios de cozinha tiveram maior desenvolvimento em três momentos da humanidade:
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*A descoberta do fogo, graças ao qual foi possível fundir metais e produzir utensílios mais precisos, pois até então a pedra era o principal material culinário;
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*A descoberta da cerâmica, que possibilitou moldar panelas e recipientes mais resistentes ao calor;
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*E a primeira Revolução Industrial, que popularizou utensílios metálicos e facilitou a disseminação de hábitos de mesa da nobreza europeia.
O caso da cerâmica é ainda mais interessante. Por ser menos porosa, com este material o homem conseguiu fazer panelas rudimentares e pela primeira vez utilizar a água no preparo dos alimentos, que, até então, era basicamente cereais moídos e carnes assadas. Só para ver o quanto isso impactou na história dos costumes culinários do mundo, pense que foi graças aos primeiros ensopados que o homem conseguiu separar a gordura, utilizada a partir de então para refogar, guisar e fritar carnes e vegetais.
Os utensílios ao longo das Eras
Na Idade Média era comum cozinhar com fogo aberto, e os utensílios eram feitos de barro, ferro ou bronze; na época já existiam as panelas, frigideiras e caldeiras, além de facas, colheres, espetos e tesouras. No Renascimento surgiram as balanças, garfos e grelhas.
No século XVII, com a Revolução Industrial, pela primeira vez houve uma melhora significativa dos materiais e utensílios de cozinha. Nesta era, utensílios de maior qualidade puderam ser produzidos e vendidos por menores preços, o que ajudou a difundir certos costumes pela Europa afora; exemplo: o uso do garfo para comer macarronada. Além disso, graças à melhoria dos meios de transporte, os alimentos perecíveis puderam cruzar maiores territórios. Foi quando o consumo de pescados se intensificou, e novos pratos e modos de preparo foram inventados pelos chefs da época. Acompanhando o surgimento de novos pratos, vieram novos utensílios de corte e preservação.
A partir da Revolução Industrial, as mudanças de costumes e surgimento de novos utensílios seguiram uma cadência exponencial. No século XIX novos materiais figuraram nas cozinhas e mesas: cobre, novos usos do ferro, panelas de alumínio, cerâmicas de maior qualidade. Uma curiosidade: acultura francesa era muito valorizada na Europa e suas colônias, e por isso os utensílios, costumes e pratos de sua cozinha foram copiados mundo afora.
Em relação aos utensílios de cozinha, o século XX foi a era do plástico e seus derivados. Com a descoberta do material (que se deu, na verdade, em 1850, mas só mais tarde foi popularizado), utensílios pesados foram pouco a pouco sendo substituídos. Depois dos anos 1950, os lares foram invadidos por novos e inovadores produtos, impulsionados pela industrialização e da força propagandeada do “sonho americano”.
Curiosamente, apesar de o século XXI possuir muitas opções de materiais, tamanhos etc., há cada vez mais uma nostalgia por utensílios retrô; exemplo: batederias manuais. Uma prova dessa vastidão de oferta é a marca OXO, que possui inúmeros produtos tanto clássicos quanto inovadores. Ela surgiu no fim do século XX e já conquistou o coração dos chefs não só nos Estados Unidos, mas em todos os países onde a marca está presente. Confira a linha completa no site da Spïcy:http://www.spicy.com.br/oxo
Sobreviventes e aposentados
Os utensílios que mais sobreviveram ao tempo são os que vêm à mente toda vez que pensamos em cozinha: garfo, faca, colher e panela. Esta surgiu em 10.000 a.C. na América do Sul e representou uma revolução nutricional à humanidade: se antes os povos utilizavam conchas, cascos de tartaruga e até mesmo estômago de animais para preparar os alimentos, foi graças à panela rudimentar que o homem percebeu que podia usar a água para cozinhar, esquentar e amolecer o consumo de alimentos até então não duros demais para serem consumidos.
A faca, de origem etíope, surgiu antes mesmo do fogo. Era multiuso, pois além de servir de arma, cortava em pedaços os alimentos que os dentes não podiam triturar. Curiosidade: algumas das leis da etiqueta à mesa surgiram na França para evitar que acidentes acontecessem no manejo da faca nos banquetes da aristocracia.
A colher surgiu provavelmente três séculos antes da era cristã. Antes dela eram utilizados galhos e conchas para se alimentar de líquidos e substâncias pastosas.
O garfo seria o caçula deste time de sobreviventes, pois apareceu apenas no século XI, já na Europa. Havia muito preconceito quanto ao seu uso, já que seu formato é análogo ao tridente do diabo, e a Idade Média levava mais a sério os símbolos religiosos. A superstição caiu abaixo quando os italianos passaram a utilizar o garfo para a macarronada, e o costume foi logo associado à nobreza: costumava-se comer macarrão com a mão, o que, após a popularização do garfo, ficou associado às classes baixas.
Mas nos anais da história culinária também há utensílios aposentados, sejam por motivos de obsolescência ou mesmo fracasso. Por exemplo: em 1940, um australiano criou o spork (spoon + fork), uma mistura de colher e garfo. Apesar da boa intenção, na prática o utensílio não cumpria nenhuma das duas funções, e não resistiu ao desuso.
O batedor de ovos manual, que surgiu no fim do século XIX nos Estados Unidos e foi popularizado para produzir bolos, claras em neve e outras misturas, teve vida de mais ou menos cem anos, pois em 1971 surgiu a batedeira elétrica. No entanto, o mercado prova que o batedor manual pode voltar à vida, em especial aos amantes nostálgicos da cozinha.
Por fim, o pilão. O utensílio surgiu há 20 mil anos na África com fins de triturar cereais e ervas, o que foi a causa da sensível melhoria nutricional e medicinal das tribos. Nas cozinhas de hoje ele não costuma ser utilizado, a não ser para fazer molho pesto ou servir de decoração, já que os processadores de alimentos cumprem a função em tempo muito inferior.
Não perca na próxima semana a continuação do Especial Utensílios de Cozinha, com mais curiosidades e fatos para você que é apaixonado por gastronomia..
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Fontes:
http://www.antiquariocasarao.com.br/
http://revistaepoca.globo.com/
“Memórias Gastronômicas de Todos os Tempos” (Ed. Zahar)